D. Pedro I

D. Pedro I, o primeiro Imperador do Brasil

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O primeiro imperador do Brasil é figura que desperta polêmica e ambiguidade. Foi príncipe, soldado, imperador e grande amante das artes. Viveu pouco e com grande intensidade: fundou o Império brasileiro, abdicou de dois tronos em favor de dois filhos, saiu vencedor no comando de várias batalhas, além de governar com duas das primeiras cartas constitucionais que o mundo conheceu.

Pedro de Alcântara Francisco Antonio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pasqual Sipriano Serafim de Bragança e Bourbon nasceu em 12 de outubro de 1798 em Queluz, Portugal, às 6h30, LMT. Assim como seu pai, não era o primogênito. Com a morte do irmão mais velho aos três anos de idade, tornou-se o futuro rei de Portugal na linha sucessória. Seu pai, D. João, estava na condução de Portugal, mas só foi aclamado príncipe regente um ano depois. Pedro e seu irmão mais novo, Miguel, cresceram juntos e sozinhos no Palácio de Queluz, onde foram educados por aias, preceptores e diversos instrutores: só se reuniam à família nas festividades oficiais.

Aos nove anos, Pedro chegou ao Brasil. A família continuou dividida e o menino foi viver com o pai e a irmã mais velha em São Cristovão, enquanto a mãe, D. Carlota Joaquina, foi morar na Praia de Botafogo com o irmão Miguel e as outras meninas. Pedro cresceu num ambiente instável, numa cidade que fervilhava, onde tudo prosperava e se modernizava; Pedro convivia indiscriminadamente com nobres, militares, comerciantes, funcionários públicos e diplomatas, mas também com escravos, ciganos, artistas, católicos, judeus, protestantes; e tratava a todos sem formalidade ou distinção.

Desde pequeno, o jovem príncipe revelou dotes artísticos e dedicou a vida a aprimorá-los. A tradição de cultivo das artes entre os Bragança é conhecida desde o século XVII, principalmente na área da música, quando D. João IV ascendeu ao trono português. O monarca fez parte dos compositores da época e junto com Duarte Lobo, Filipe Magalhães e Manuel Cardoso compôs a fase dourada da polifonia portuguesa. Seu neto, D. João V contratou Domenico Scarlatti, radicado em Portugal por alguns anos, como professor de música de seus filhos. Anos depois, D. Maria I tinha a seu serviço um dos mais brilhantes conjuntos musicais da Cristandade, segundo W. Beckford, embaixador inglês em sua Corte, comparável apenas ao que possuía o papa. E esse hábito foi importado para o Brasil quando da vinda da família real.

Já imperador, Pedro era excelente escultor e músico de vários instrumentos: piano, flauta, violino, fagote, trombone, cravo e viola. Foi aluno do famoso maestro Marcos Portugal e apreciava os mais variados estilos musicais, desde a música sacra até o lundu. Como compositor, produziu alguns cantos religiosos, um Te-Deum e vários hinos como o Hino da Independência do Brasil, da Maçonaria e da Carta, que acabou se tornando o Hino Nacional de Portugal até a queda da monarquia naquele país. Uma de suas criações chegou a ser executada em Paris em 1832 pelo grande Rossini.

Outra de suas paixões era a cavalaria e o príncipe fazia questão de domar seus próprios cavalos. Seu amor pelos equinos o levou mais tarde, a importar várias práticas veterinárias,até então só adotadas na Europa, e a introduzir várias raças de cavalos inexistentes na América do Sul. Era um grande amante da natureza e se vestia de maneira simples, roupas de algodão e chapéu de palha. Dedicava-se ainda à marcenaria, à escultura e à construção de pequenos navios. Era conhecedor das qualidades e diferenças das inúmeras madeiras brasileiras e orgulhava-se de ter a própria oficina, de onde saíram diversos móveis e até a proa de um navio.

Pedro teve diversos casos amorosos na juventude, um deles até famoso com uma bailarina francesa, que a Corte tratou logo de afastar, enviando a moça para bem longe do Rio de Janeiro. Com a queda de Napoleão em 1815, D. João cuidou de arrumar um bom casamento para Pedro com uma princesa europeia e encarregou o Marquês de Marialva de encontrá-la. Casando Pedro por procuração, em 1817, com a princesa austríaca Carolina Josefa Leopoldina, D. João garantiu o apoio de outra grande nação europeia em contraponto à Inglaterra.

A noiva chegou ao Rio de Janeiro acompanhada do pai e de diversos cientistas, artistas e pintores, que compuseram a Missão Austríaca como já citamos, abrindo mão das mazelas femininas comuns às nobres da época. A princesa era extremamente culta e como já falava várias línguas, entre elas alemão, francês, inglês e italiano, logo aprendeu o português. Na Europa, havia convivido com vários artistas tais como Goethe e grandes compositores da época. Leopoldina se interessava por botânica, mineralogia e pintava quadros muito bem.

Durante os primeiros anos de casamento, o casal parecia feliz. Leopoldina tornou-se uma grande companheira do marido e chegou a aprender equitação para acompanhá-lo em suas cavalgadas matutinas pela Serra da Tijuca e Jardim Botânico. Depois do café da manhã, visitavam repartições públicas, hospitais, portos, quartéis e no resto do dia se dedicavam às atividades culturais como música, leitura e cuidado com os filhos. O casal teve sete filhos dos quais cinco sobreviveram e quatro chegaram à idade adulta, sendo que a filha mais velha, Maria da Gloria, se tornaria D. Maria II, rainha de Portugal; e o único varão, Pedro II, se tornaria o segundo imperador do Brasil. D. Pedro I participou de todos os partos de seus filhos e era ele mesmo quem cuidava das crianças quando adoeciam.

Leopoldina teve papel importante na Independência do Brasil. Sempre esteve ao lado de D. Pedro durante o seu reinado e chegou a assumir a Regência Provisória em 1822, depois do Dia do Fico, ocasião em que D. Pedro saiu em campanha pelos estados de São Paulo de Minas Gerais para angariar apoio ao seu governo. Pela primeira vez uma mulher dirigia o Brasil, ainda Colônia. E foi durante esta viagem que chegaram duas cartas de Portugal exigindo a volta do príncipe e o retorno do Brasil à sua antiga condição colonial. Leopoldina e José Bonifácio, conselheiro de Pedro àquelas alturas, escreveram-lhe incentivando-o a romper definitivamente com Portugal e declarar o Brasil independente. E foi assim que ele o fez às margens do Ipiranga, São Paulo, em 7 de setembro de 1822.

Essa fase representou o auge da união entre Pedro e Leopoldina. Mas foi na mesma viagem que o príncipe conheceu o grande amor de sua vida, Domitila de Castro Canto e Mello, que se tornou sua amante, motivo que deterioraria o casamento do agora I Imperador do Brasil, rapidamente. 1826 foi um ano decisivo para D. Pedro I: em março D. João faleceria em Lisboa, um filho nascido da união com Domitila morreria e em dezembro, Leopoldina não sobreviveria ao último parto.

Após a morte de Leopoldina e a propagação da noticia de seu caso com a amante, a impopularidade de D. Pedro I cresceu. Decidiram então que deveria se casar de novo e foi na Baviera que o Marques de Barbacena, incumbido da difícil tarefa de encontrar-lhe uma noiva, conseguiu convencer o rei a conceder a mão de uma sobrinha, Améliade Leuchtenberg. A jovem princesa não só era muito bonita como descendente da refinada Josefina, primeira esposa de Napoleão. Pedro ficou encantado por ela, mas foi preciso acabar com seu romance com Domitila para que o casamento se realizasse. Da união com Domitila nasceram cinco filhos, mas só duas meninas chegaram à idade adulta, sendo uma delas inclusive, adotada por Amélia e enviada à Corte da Baviera, onde casou e teve fértil descendência.

Após o casamento com Amélia em 1829, o imperador tentou resgatar a popularidade, mas não era mais possível devido às questões políticas e à má reputação como marido, causas que contribuíram para que abdicasse o trono em 1831 em favor do filho Pedro, o segundo. Mas a bem da verdade, o trono de Portugal estava frágil e o imperador empenhava recursos brasileiros para sua garantia, o que o transformava de certo modo em traidor. Desde a morte de D.João VI, Portugal estava sob a governança de Miguel, seu irmão, e Pedro havia abdicado o trono de Portugal em favor de sua filha mais velha, Maria da Glória, ainda uma criança.Tão logo possível, a pimpolha se casaria com Miguel, seu tio e se tornaria D. Maria II, rainha de Portugal. Mas Miguel foi mais rápido e tratou de confiscar o trono com o apoio da Áustria, país que comandava o continente na época. Era preciso retomar o controle sob o reino de Portugal. E Pedro voltou à Europa. Acompanhado da esposa e da filha Maria da Gloria, foi acolhido pela França. De lá, dirigiu-se aos Açores, último reduto português que o defendia, e conseguiu organizar um pequeno exército que acabou derrotando as tropas portuguesas na cidade do Porto.

Após retomar o reino de Portugal e deixar os tronos de Brasil e Portugal independentes pros dois filhos, D. Pedro I voltou a Lisboa e morreu no mesmo palácio em que nasceu. Como bom libriano, Pedro sempre esteve dividido entre os dois países, entre o absolutismo e o liberalismo, entre o heroísmo e a política cotidiana, a esposa e a amante, o artista e o soldado. E quando morreu, seu coração ficou na cidade do Porto em Portugal e seus restos mortais vieram pro Museu do Ipiranga em São Paulo.

 

Editado a partir do livro “A contente mãe gentil rumo ao bicentenário” – A História do Brasil vista pela Astrologia, de Rui S. S. Barros e Ciça Bueno, 2013.

 

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