Oscar Niemeyer e Lucio Costa foram o arquiteto e o urbanista, respectivamente, que projetaram a cidade de Brasília, construída entre 1958 e 1960. Planejada antecipadamente a pedido do ex-presidente Juscelino Kubistchek, Brasília nasceu para mudar a cara do Brasil e fazê-lo ingressar na era Moderna.
- OSCAR NIEMEYER
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Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho (1907-2012) nasceu num bairro de classe média do Rio de Janeiro, no dia 15 de dezembro de 1907, filho de um funcionário público. Em 1929 entrou para a ENBA – Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, onde se formou engenheiro arquiteto, em 1934.
Iniciou a profissão de arquiteto como estagiário do escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão e, em 1936, foi designado para assistir o arquiteto suíço Le Corbusier, que passava uma temporada no Brasil, a convite de Costa.
Lúcio Costa (1902-1998) por sua vez, nasceu na cidade de Toulon, na França, no dia 27 de fevereiro de 1902. Era filho do almirante brasileiro Joaquim Ribeiro da Costa e passou grande parte de sua infância viajando, em virtude da profissão do pai. Costa teve uma formação privilegiada, tendo estudado em escolas na Inglaterra e Suíça. Em 1917, de volta ao Brasil, ingressou na Escola Nacional de Belas Artes, concluindo o curso de arquitetura e pintura em 1924. Mas sempre se manteve antenado com os movimentos internacionais de arquitetura e arte.
Na Europa pós-impressionista da época, vários movimentos ocorreram nas artes visuais entre 1910 e 1920, fruto das revoluções sociais e urbanas que se seguiram após a 2ª fase da Revolução Industrial, no início do século. Entre eles, podemos citar o Fauvismo e Expressionismo, o Cubismo, o Futurismo, o Suprematismo ou Construtivismo Russo, seguidos do Neoplasticismo e Bauhaus.
No Brasil todas essas tendências se mesclariam, trazidas ao país por artistas brasileiros que haviam estudado na Europa naquele período. É o que se pôde comprovar na Semana de Arte Moderna de 1822 – que gerou o Modernismo, um movimento literário, artístico e cultural de amplo espectro, que promoveu uma reavaliação da cultura e da política brasileiras. O movimento coincidiu com o Centenário da Independência, com a aceleração industrial e com um breve período de prosperidade decorrente da exportação de café. O modernismo iniciou uma era de transformações essenciais no Brasil.
Em 1925, Lucio Costa visitou a Expo de Beaux Arts em Paris, onde tais tendências artísticas haviam sido reunidas. A exposição representou o marco inicial do ciclo de modernidade estética que foi o período entre guerras na Europa. Lá, Costa conheceu o trabalho de Le Corbusier e L’ésprit Nouveau, revista que ele publicava e que circulava por toda a Europa ditando um novo jeito de viver e de morar, tendo ele como idealizador e inaugurando a arquitetura dita moderna.
Ao retornar ao Brasil, a convite de Rodrigo Melo Franco, assessor do Ministro da Educação e Saúde, Costa é nomeado diretor da Escola Nacional de Belas Artes e assume o cargo com o objetivo de implantar um curso de arquitetura moderna, enfrentando no começo a oposição do corpo docente.
Logo no início, com a intenção de divulgar a Arte Moderna no país, promove uma exposição de pintura modernista, cuja comissão organizadora era composta por ele próprio, o escultor Celso Antônio, os pintores Cândido Portinari e Anita Malfatti e o poeta Manuel Bandeira. Lucio e sua equipe mudaram a estrutura e o espírito do salão que já ocorria anualmente, atraindo artistas ligados à corrente moderna, na sua maioria paulistas. A 38ª Exposição Geral, que foi chamada de Salão Revolucionário, reuniu 506 pinturas, 129 esculturas e 35 projetos de arquitetura.
Em sua rápida passagem pela diretoria da ENBA entre 1930 e 1931, Lucio Costa remodelou o curso de arquitetura com base nos princípios modernos vigentes na Europa. Esse novo modelo repercutiu entre os estudantes, cuja turma rendeu alguns dos grandes nomes do modernismo brasileiro, inclusive o próprio Niemeyer.
Em 1935, Costa é convidado pelo Ministro Gustavo Capanema para elaborar o projeto da nova sede do Ministério da Educação e Saúde do Rio de Janeiro e reúne uma equipe formada por Affonso Eduardo Reidy e Carlos Leão, seus sócios, convidando o próprio Le Corbusier para vir ao Brasil, coordenar o projeto.
Oscar Niemeyer, que desde o terceiro ano de curso, já trabalhava de graça no escritório de Lúcio Costa como estagiário, foi chamado para integrar a equipe e ser assistente direto de Le Corbusier. O contato com Lucio Costa seria extremamente importante para o amadurecimento profissional de Niemeyer. Foi Costa quem percebeu que os avanços do estilo internacional que vigia na Europa eram a manifestação verdadeira de uma arquitetura contemporânea. Seus escritos sobre a simplicidade técnica e a honestidade construtiva que reúne a tradicional arquitetura colonial Brasileira (tais como em Olinda e Ouro Preto), acrescidos dos princípios modernistas formariam a base teórica da arquitetura que viria a ser realizada por Niemeyer e seus contemporâneos.
O Ministério, que tinha como tarefa moldar o novo homem, brasileiro e moderno, foi o primeiro edifício modernista no mundo a ser patrocinado pelo Estado, numa escala bem maior que qualquer projeto que Le Corbusier houvesse construído até então. O prédio demonstrava na prática os elementos que viriam a ser reconhecidos como a base do modernismo arquitetônico brasileiro: é elevado da rua e se apoia em pilotis; possui um sistema de pilares de concreto que mantém o prédio suspenso, o que permite o livre trânsito de pedestres por baixo, como um espaço público de passagem. O edifício Gustavo Capanema empregou materiais locais, como os azulejos ligados à tradição portuguesa e revolucionou com seus brises-soleil corbusianos. Além das cores ousadas, o prédio recebeu obras especialmente encomendadas a artistas tais como os jardins tropicais de Burle Marx e o painel de Cândido Portinari. O edifício é considerado o primeiro grande marco da Arquitetura Moderna no Brasil e um dos mais influentes do século XX.
As ideias de Le Corbusier também tomaram parte na arquitetura de Niemeyer: a utilização de materiais novos e técnicas construtivas modernas mescladas aos cinco princípios básicos da nova arquitetura: pilotis, fachadas livres, linhas retas, terraços-jardim e muita transparência através da utilização maciça do vidro. Se bem que mais tarde, em entrevista, Niemeyer alegou que sua arquitetura foi fortemente influenciada por Le Corbusier sim, mas que isso “não impediu que sua arquitetura seguisse em uma direção diferente”. Niemeyer se destacaria pelo uso de formas abstratas e linhas curvas, que caracterizam a maioria de suas obras.
Em 1940, Niemeyer conheceu o então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek e, convidado pelo político, realizou seu primeiro grande projeto, o Conjunto da Pampulha, constituído por um Cassino, a Casa de Baile, o Clube e a Igreja de São Francisco de Assis ou Igreja da Pampulha.
Em 1947 participou do Comitê Internacional de Arquitetos que projetou a Sede das Nações Unidas em Nova Iorque, integrado também por Lucio Costa e pelo próprio Le Corbusier. Realizou ainda obras tais como o prédio do Banco Nacional Imobiliário (BNI), a Casa Edmundo Cavanelas, em Petrópolis, a Biblioteca Pública Estadual de Belo Horizonte e o Edifício Copan em São Paulo, em parceria com Carlos Lemos.
Em 1957, Costa se candidatou ao concurso para a criação da nova capital do país, enviando ideia para um anteprojeto, que contrariava algumas normas do certame. NO entanto venceu quase por unanimidade. E desenvolveu o Plano Piloto de Brasília sobre a forma de um avião. O projeto utilizava os conceitos modernistas de cidade, colocando o automóvel no topo da hierarquia viária, facilitando o deslocamento pela cidade e propôs que os blocos de edifícios ficassem bem afastados e sobre pilotis, promovendo assim imensas áreas verdes de convivência.
Coube a Niemeyer a realização dos principais prédios públicos, tais como o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto, o Itamaraty, o Congresso Nacional, a catedral, a Praça dos Três Poderes, o Supremo Tribunal Federal e o Teatro Nacional. Foi em Brasília que Niemeyer se superou explorando ao máximo e até então, as possibilidades construtivas do concreto armado. E por esse feito, tornou-se altamente influente na época, na arquitetura do final do século XX e início do século XXI. Niemeyer é elogiado e, ao mesmo tempo criticado por ser um escultor de monumentos, mas o fato é que esse grande artista foi um dos maiores de sua geração. Esse trabalho levou à sua nomeação como diretor do departamento de arquitetura da Universidade de Brasília, bem como membro honorário do Instituto Americano de Arquitetos.
Com o golpe militar de 1964, Niemeyer deixa o país e se exila na França, onde abre escritório. Ao retornar do exílio em 1979, projeta monumentos importantes, como os prédios dos CIEPS – Centro Integrado de Educação Pública e o Sambódromo, ambos no Rio de Janeiro. Em 1988 recebe o Prêmio Pritzker de Arquitetura. Depois de Brasília, Niterói no Rio de Janeiro, é a cidade que tem um maior número de obras de Niemeyer, entre elas o Museu de Arte Contemporânea, em estilo futurista, inaugurado em 1991. Em 1996, recebeu o Prêmio Leão de Ouro da Bienal de Veneza. Em 1999 inaugura o Auditório do Ibirapuera, em São Paulo, e o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Em 2010 inaugura a Cidade Administrativa de Minas gerais e em 2011 o Centro Cultural Oscar Niemeyer na Espanha.
Niemeyer, que realizou mais de 600 projetos em todo o mundo, foi casado com Anita Baldo durante 76 anos e ficou viúvo em outubro de 2004. Em 2006, casou-se com sua secretária Vera Lúcia Cabreira. Em 2007, ao completar 100 anos, recebeu a Medalha do Mérito Cultural do Brasil. Niemeyer continuou a trabalhar até dias antes de sua morte, em 5 de dezembro de 2012, aos 104 anos.
Já Lucio Costa, após a construção de Brasília, recebeu convites para coordenar vários planos urbanísticos, no Brasil e no exterior. Foi também colaborador e diretor do IPHAN –Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Costa faleceu em 1998 e deixou duas filhas, uma delas arquiteta.
Ciça Bueno, abril 2015
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