Augusto Lívio Malzoni, arquiteto e artista plástico, entre outros segmentos em se desenvolveu na abrangente formação que teve na FAUUSP dos anos 70 e que pôde utilizar na vida profissional, como ele mesmo diz. Vocacional teve a honra de entrevistar esse grande artista. Confira abaixo.
VOC: Olá, Augusto Lívio, é um prazer e uma honra tê-lo conosco aqui no site Vocacional.
AL: O prazer e a honra são meus. Espero contribuir no esclarecimento de algumas questões baseado na minha vasta (em tempo de vida ) experiência, pois me diplomei arquiteto pela FAUUSP, em 1972.
VOC: Pra começar, conte pra nós o que é que você faz hoje e como.
AL: Sou artista plástico e trabalho com Arte e com Arquitetura em vários segmentos. Acho que minha vocação foi se construindo. Desde criança acompanhava familiares interessados em arte com muito prazer; e com o tempo descobri que desenhava um pouco mais que o razoável, assim como me interessava muito por História e também por estórias. Passado o tempo, posso perceber um percurso bastante diversificado na minha vida profissional. Diria que atualmente utilizo os conhecimentos adquiridos na minha formação em duas atividades principais: na consultoria de uma firma de urbanismo e também de uma coleção de Arte.
VOC: E você sempre trabalhou com esses segmentos chegou neles com o tempo e a experiência?
AL: Cheguei com o tempo, por causa da experiência e principalmente pela contingencia. Como estudante de Arquitetura na FAU e na década de 1960 (esses dois fatos são importantes, você vai entender porque), tive uma formação bastante abrangente. Depois de graduado apliquei e desenvolvi minhas capacidades em quase todos os campos em que pude atuar, tanto na Arte quanto na Arquitetura.
VOC: E qual é a sua formação?
AL: Fiz primário, ginásio e colegial (assim chamavam-se na época) no Mackenzie. Acho que aquela base “americana” influenciou de alguma forma minha maneira de ver o mundo. Além disso, ainda adolescente, meus pais me levaram para uma viagem pela Europa. Tenho certeza que no mínimo isso me ajudou a ter fortes alicerces de informação geral e me facilitou o aprendizado de línguas estrangeiras. Só me arrependo hoje de não ter me aventurado por culturas mais diversificadas (alemão, russo, chinês ou japonês, por exemplo).
No inicio da juventude, por curiosidade, entrei em um curso livre de desenho e pintura na antiga FAAP, a “fundação”. Comecei cedo a conviver com Arte e com as pessoas dedicadas a ela. Foi também o que me ajudou imensamente como base para me capacitar aos exames de habilitação para universidade, o vestibular.
VOC: E quando você era jovem e estava em fase de decisão de curso, faculdade ou carreira, teve alguma dúvida por outro caminho? Se teve, qual foi e o que o fez decidir pela Arquitetura?
AL: Não tive muita chance de ter dúvidas. De alguma maneira eu era um aspirante a artista plástico e me interessavam também a edificação e principalmente a Cultura e a Historia da Arte. Os estudos mais práticos destes vários campos estavam concentrados nas faculdades de Arquitetura. Não havia outros cursos específicos em nenhuma das outras áreas. Foi fácil decidir.
VOC: Caro Augusto, por favor, conte pra gente como foram seus primeiros anos de atividade na área de Arquitetura? Em quais profissionais, artistas, modelos você se inspirava?
AL: Um dos temas mais específicos que se abordava na FAU no meio dos anos 1960, era justamente a compreensão e definição do conceito de “modelo”. O professor Vilanova Artigas, recém aposentado compulsoriamente pelo golpe militar, era nosso ídolo. O conceito de modelo foi extensivamente abordado por ele, que pensava muito uma Arquitetura de cunho social e libertário. Estava se desenhando a Arquitetura paulista, mais inserida no movimento brutalista internacional. Por outro lado, começavam as pesquisas que vieram a ser chamadas pós-modernas. Sempre achei que cada experiência trazia suas qualidades próprias.
VOC: Você pode dizer que teve um grande desafio, projeto, experiência ou fase que tenha sido muito marcante na sua carreira?
AL: Num dado momento, em que por contingência, estava fazendo somente coisas fora do que eu gosto e conheço, apareceu a chance de fazer a museografia de uma grande exposição retrospectiva do artista Wesley Duke Lee, que me encheu de gratificação. Cito esta experiência como exemplo completo de utilização dos vários conhecimentos que adquiri na faculdade e na vida profissional. Acompanhei a curadoria na escolha dos quadros e na sequencia de exposição; criei espaços, salas e condições para exibição das obras; desenhei equipamentos para o museu e ajudei, como artista gráfico, na elaboração do catálogo.
VOC: Conte pra nossos internautas como é o seu cotidiano? Você trabalha só ou tem uma equipe?
AL: Meu cotidiano sempre foi desorganizado e irregular. Talvez por isso cada vez sinto mais a importância de saber delegar e consultar outras pessoas. A cada empreendimento novo, se for preciso, eu monto uma pequena equipe ou uso especialistas em cada área.
VOC: Tem alguma outra área da Arquitetura em que você gostaria de atuar? Ou até em outra área de atividade?
AL: Já fiz bastante coisas relacionadas com Arte e Arquitetura. Por exemplo, montagens de exposições, cenários e desenho industrial.
VOC: Como é o seu lazer?
AL: Ócio criativo ou visitas a museus e novas obras de Arquitetura. Muitas vezes ócio puro.
VOC: Quais são seus projetos futuros?
AL: Dar continuidade às minhas atividades.
VOC: Tem alguma dica ou conselho que você possa dar pra alguém que está escolhendo, estudando ou ingressando nessa área, ou tudo isso junto?
AL: Você viu quanta coisa eu acabei fazendo por conta dos primeiros interesses que pude detectar e como a maioria sempre me rendeu frutos. Sigo a filosofia de pegar o bonde que passa na hora certa e por isso estou contente por ter pego os muitos bondes que a sorte me mandou. Sempre foi muito importante me perguntar a cada novidade se era o que eu gostava e se me daria alguma contribuição pessoal. Se achasse que a resposta a esta questão fosse positiva aí então me submetia: tanto às gratificações quanto às dificuldades que apareciam.
VOC: Muito obrigada, Augusto, por seu tempo e simpatia.
AL: Eu é que agradeço a chance de dividir um pouco minha visão da profissão. Espero ter dado umas dicas boas.