Quiron é um astro do Sistema Solar que sempre ocupa lugar de destaque nos mapas astrológicos de curadores, ou seja, dos médicos, terapeutas, psicólogos, astrólogos, assistentes sociais, educadores e artistas. Fizemos uma pesquisa em 2009 e constatamos que sua presença varia de 50 a 70% nos mapas desses profissionais.
Também chamado de curador ferido, Quiron acaba de entrar em Áries, o primeiro signo do zodíaco, inaugurando um novo ciclo de 51 anos, tempo que leva para completar uma órbita em torno do Sol. Continue lendo e saiba mais sobre ele.
Quiron é um asteroide descoberto em 1977, na Califórnia/EUA. Na ocasião, a comunidade astrológica parecia entusiasmada com o novo astro e passou a incluí-lo em suas análises e leituras. Até 1990, pensava-se que o astro fosse um asteróide ou planetoide; mas ao se aproximar do Sol (periélio), Quiron ganhou uma cabeleira de gás e poeira, o que o transformava em cometa. Até então, Quiron tinha a classificação de asteroide sob o numero 2060 na IAU (InternationalAstronomic Union) e passou a ter também o numero 95P/Chiron na classificação como cometa. A discussão não terminou e Quiron mantém as duas classificações astronômicas até hoje.
Na mitologia grega, Quiron é filho de Cronos, um titã – representante das forças brutas da natureza -, que se transformou em cavalo para fertilizar Filira, uma ninfa do mar, por quem se apaixonara. Quíron, que nasce com corpo cuja metade é de homem e a outra metade é de cavalo, é rejeitado pela mãe, que o abandona. Quiron foi encontrado por Apolo que o adota como filho e lhe transmite todos os seus conhecimentos. A rejeição materna e a ausência paterna compõem arquetipicamente a imagem desse herói, que antes de tudo possui uma ferida básica, uma dor ancestral, a dor da rejeição. Quiron torna-se um mediador dos ideais apolíneos de harmonia, cultura, ordem e criatividade, além de sábio, profeta (oráculo), médico, músico e mestre. Porém, Quiron acaba atraindo outra ferida, causada por uma flecha envenenada de Hércules que lhe atinge a coxa, provocando uma ferida incurável. Quiron passa a sofrer bastante pela dor de sua ferida e, ironicamente, seu dom de curar se desenvolvia mais e mais à medida que procurava obter alívio para sua dor incurável. Seu destino só veio a encontrar solução quando Hércules intercedeu a seu favor junto a Zeus e pediu a troca de sua imortalidade pela mortalidade de Prometeu.
A descoberta de Quiron é sincrônica com alguns fatos que mudaram o paradigma da nossa civilização no século XX. É desta época o início da integração das artes e ciências do Oriente e do Ocidente, o advento no ocidente de práticas de cura em alternativa à medicina tradicional (Homeopatia, Medicina Chinesa, Acupuntura, Antroposofia, Terapias Florais,…), o nascimento de novas abordagens psicoterapêuticas (Bioenergética, Biossíntese, Holfing, Pathwork, …) e a chegada no ocidente de novas filosofias e práticas corporais que integram saúde físico-psíquica com espiritualidade (Yoga, Shiatsu, Tai-chi-Chuan e artes marciais).
Passamos a repensar os conceitos de magia, adivinhação, intuição, percepção, faculdades paranormais, inaugurando na consciência humana alguns conceitos inéditos como autocura, holismo, holograma, pensamento sistêmico, ecologia, sintonia, ressonância, sinergia, dimensão, atratividade, magnetismo, física quântica, complexidade, transdisciplinaridade e outros, advindos do novo paradigma de pensamento que propõe a integração dos dois hemisférios do cérebro, das duas metades do mundo, do Ocidente com o Oriente.
Durante as décadas de 70 e 80, o mundo tomou conhecimento do trabalho e da filosofia de mestres como Sathya Sai Baba, Osho, Dalai Lama, que como outros, utilizavam técnicas de meditação como meio de cultivar a paz, a verdade, a justiça, o amor, a não-violência e a compaixão entre os homens. Ressurgem práticas e filosofias esotéricas como o I Ching, a Astrologia, a Numerologia, o Tarô e, mais recentemente a Cabala, além dos movimentos ecológicos em todo o mundo, que visavam e visam até hoje, que a humanidade acorde para o fato de que o planeta é um ser vivo, que seus recursos naturais são finitos e podem ser extintos pela própria ação do homem. E é dessa época também o surgimento das organizações não governamentais – ONG’s- , associações e iniciativas da sociedade civil sem fins lucrativos, que surgem como formas de superar lacunas, conflitos e contradições existentes na sociedade.
Quíron alterou a nossa percepção sobre a vida, transformou nossa visão de mundo e nos alertou para o fato de que é primordial cuidar dos nossos entes queridos, de nossas relações sociais, do meio ambiente em que vivemos, da cultura na qual estamos inseridos, da comunidade de que fazemos parte…, ou nossa sociedade e civilização sucumbirão a si mesmas.
Quíron é portador deste aumento de consciência e veio nos informar que cada indivíduo deste planeta pode incorporar o seu real poder de criar um mundo melhor para si e para os seus. Quíron rege o “ponto quirótico”, ou uma interdimensão entre os planetas interiores e exteriores, propondo uma interface entre o consciente e o inconsciente. Nada mudou desde que Quíron foi descoberto. Mas a nossa percepção da realidade sim, o que nos habilita a ver mais, a ver além do que nossos olhos alcançam, mas do que a alma é capaz de tatear: a beleza dos domínios invisíveis no céu e dentro de nós.
Cada um de nós possui Quíron em seu mapa astrológico natal e conhecer esse símbolo é conhecer onde e como podemos contatar nossas feridas e sombras, trazê-las à luz da consciência e curá-las.
Ciça Bueno, fevereiro de 2012
Editado do nosso livro Quiron e o papel do curador na contemporaneidade, Editora MCB, 2009