Minha paixão pelo Tom Jobim

tom jobim 1As últimas manchetes sobre os 20 anos da morte do maestro, lembraram-me de minha paixão por ele.

Eu nasci no final da década que inventou a Bossa Nova e desde pequena ouvia tudo o que saia de novidades, através dos meus irmãos mais velhos, que adoravam música. Eu me lembro que meu irmão chegava da faculdade e ligava a Rádio Eldorado na vitrola da sala, que passava o dia ligada: eu acompanhava tudo.

Logo cedo meu pai me pôs pra aprender piano clássico, mas logo eu barganhei o piano pelo violão e comecei a tocar os sucessos da Bossa Nova e dos grandes compositores da época, entre os quais o nosso mestre Tom Jobim.

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Passei a adolescência tirando e acumulando canções no violão até que conheci o saudoso José Henrique Bello, artista plástico, amigo do meu irmão e de muitos artistas do Rio de Janeiro. O Zé morou no Rio na época do Pasquim, onde trabalhou, participou da inauguração da banda de Ipanema e era amigo de gentes como Tom, Ziraldo, Sergio Cabral, Carlinhos Lyra, Roberto Menescal e tantos outros.

Apesar da nossa grande diferença de idade, eu e Bello nos tornamos grandes amigos. Ele adorava me ouvir e me acompanhava batucando numa caixa de fósforos.

Um dia fui pro Rio com minha irmã e o namorado e liguei pro Zé, que também estava lá. Ele combinou de nos encontrarmos no dia seguinte num boteco de Ipanema pra tomar café da manhã, por volta das 11h. Fomos todos. Sentamos os quatro numa mesa e ele me pôs de costas pra porta. Às tantas me disse: que bom poder te fazer essa surpresa! E quando eu olhei pra trás, estava o maestro Tom Jobim em carne e osso.

Eu quase tive uma síncope, mas consegui conter a tietagem. E o maestro sentou-se conosco. Isso devia ser lá pelo final da década de 1970. Eu estava extasiada de estar ali, ao lado dele, ouvir sua voz, seu sotaque e seu tom sempre entre o brincalhão e o mal-humorado. Ali ficamos por alguns minutos e o Tom nos convidou pra mudarmos pro Garota de Ipanema pois já estava na hora do primeiro chopinho.

Lá fomos nós. Chegando ao famoso boteco, sentamos numa mesa grande em que já estavam alguns amigos dos dois, Tom e Zé Bello. A mesa só tinha gente interessante, descolada, engraçada, tipicamente carioca. Era uma quarta-feira. Ficamos por ali umas duas horas. E eu quase não acreditava em tudo aquilo que estava acontecendo.

Lá pelas tantas, o Zé nos fez um sinal e nós levantamos, deixando o pagamento estimado da nossa despesa sobre a mesa e saímos com ele e o Tom. Fomos então convidados pra ir à casa do maestro, que na época morava no morro do Alto Leblon e ainda era casado com a primeira esposa, a Tereza da Praia, mulher linda, a essas alturas já uma senhora. Muito simpática, nos serviu café e biscoitos.

E aí é que meu coração disparou pelo resto da tarde: ficamos ouvindo o maestro ao piano, um belo instrumento de cauda preto, em que tocou coisas como Sabiá, Olha Maria, Insensatez, entre as minhas preferidas; e muitas, mas muitas outras mais também. Tivemos ainda o privilégio de conhecer o Paulo Jobim, seu filho, que às tantas chegou e o acompanhou em alguns números na sua primorosa flauta.

E por ali ficamos algumas horas até que a noite caiu e nos lembramos de que era hora de tomar nosso rumo. Foi a maior experiência musical da minha vida e eu jamais esquecerei de cada detalhe.

E agradeço até hoje ao meu saudoso e falecido amigo Zé Henrique Bello, que entre outras inúmeras histórias que passamos juntos, me presenteou com essa, que é uma das mais fortes da minha vida!

Maestro Jobim: estamos há 20 anos sem a sua pessoa, mas jamais ficaremos sem a sua musica!

Ciça Bueno, dezembro 2014